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Foto do escritorIvan Motosserra Pamponet

Carna – Purim (Parte 1)




Nunca fui um sujeito carnavalesco. Na verdade, eu era aquele jovem roqueiro cabeludo que odiava o carnaval e não entendia como as pessoas gostavam daquilo. Tinha uma certa aversão à música tocada no carnaval, ao mar de gente suada e a bagunça barulhenta que havia nessa época. Também havia a questão da autoafirmação da minha identidade musical para com a sociedade. Tudo isso mudou em 2015 quando um amigo chegou em minha casa com mais outros amigos e insistiu muito para que eu saísse com eles. Ele disse que ia ser diferente e que eu iria curtir. Ao descer, estava achando tudo chato até ele me levar na casa de seu orientador nas proximidades. Esse orientador olhou para mim e disse que eu precisava de uísque (era um Bourbon) e prontamente aceitei. Ao voltar para o circuito, eu estava muito feliz com meus amigos e essa felicidade só se expandiu quando um pequeno trio aleatório tocou Araketu. Nesse momento a magia do carnaval tomo conta de mim e nunca mais fui o mesmo nessa época do ano. Desde então surgiu uma versão nova de mim, o Ivan carnavalesco (um boneco em edição rara).


Carlos Galhardo – Allah La Ô



Mesmo me tornando um frequentador assíduo do carnaval e até me tornando guia para turistas israelenses de forma informal, não me considero nem de longe um grande conhecedor da fina arte do carnaval. Tentarei listar alguns clássicos que não podem faltar nessa festa profana aqui de Salvador.


Tudo bem que Chiclete com Banana não é a mesma coisa sem Bell e vice-versa. Mas é inegável que Chiclete com Banana é um dos -ou até o maior- maiores nomes do carnaval soteropolitano. Além de dezenas de músicas que se tornaram grandes clássicos, a própria banda é um marco quase que espiritual aqui. Para muitos Chiclete com Banana é quase uma religião, mesmo sendo algo sazonal. Conseguimos sentir o clima carnavalesco chegando quando entra o verão e começa uma crescente onda de pessoas ouvindo e tocando Chiclete com Banana na cidade inteira. Além de seu lendário repertório, tem um público mítico com a famosa “Pipoca do Chiclete” que podemos dizer que é uma pipoca para profissionais do “esporte”. Um momento que o boxe e o suingue baiano se misturam numa coisa só.


Selva Branca, de 1987, é, pra mim, o maior clássico carnavalesco daqui. Tem uma letra que eu sempre fiquei viajando desde criança. Mas estranhamente me atraia com seu “moranguinho no copinho”. Mesmo não tendo oficialmente carnaval, qualquer lugar que você vá pode, e irá tocar essa música, hino máximo dos chicleteiros.


Chiclete com Banana – Selva Branca



Outro ser que não pode deixar de ser mencionado é Luiz Caldas. Confesso que tenho duas problemáticas pessoais com ele: Primeiro, eu ando (andava) descalço para lugares próximos por não gostar de usar sandálias e achar desnecessário por meu coturno ou uma bota, e isso me rendeu algumas brincadeiras em que eu era comparada com Luiz Caldas. A segunda é que ele lançou um álbum horrível chamado “Castelo de Gelo”, de 2010, em que fez uma péssima tentativa de “homenagear” o Heavy Metal. Mas eu não vim aqui pra falar mal desse ilustre músico, multi-instrumentista e mestre em música pela UFBA. Luiz Caldas é chamado de Pai do Axé e Rei da Música Baiana. No fim da década de 1970, ele misturou elementos regionais com ritmos latinos/caribenhos, reggae, ritmos afro-brasileiros, samba e um toquezinho de pop-rock. Podemos chamar essa grande mistura de Fricote, que seria um pré-axé.


Luiz Caldas – Haja Amor



Eu não tenho muitas considerações para fazer sobre Pimenta N’ativa, mas essa música realmente foi um sucesso no carnaval de 1996/1997. Além de Maria Joaquina realmente ter sido uma música marcante para os carnavalescos, o principal motivo de ter mencionado essa banda é o fato de ter me tornado amigo do antigo baixista da banda, Fábio Rocha. Nos conhecemos por conta da sua entrada no Retrofoguetes, uma das maiores bandas de Surf Music do Brasil. Com o passar do tempo, os laços foram se estreitando e as piadas com seu passado “apimentado” se tornaram corriqueiras.


Pimenta N’ativa – Maria Joaquina



Minha mãe tinha um CD do Araketu e eu era obrigado a ouvir por muito tempo quando ela ia para o trabalho e me deixava na escola. Por muito tempo eu ignorei suas músicas, mas quando adulto eu me dei conta que conheço a maioria delas. Não só conheço como sei cantar. “Pipoca” foi a música que eu disse que me fez entrar o clima carnavalesco. Tinha amigos, tinha uma lata de cerveja quente e ruim e uma música que eu sabia desde criança. Foi uma mudança radical em minha vida de uma pessoa que odiava de todo coração o carnaval para uma pessoa que passou a sair todos os dias de carnaval e cria uma programação prévia de um roteiro.


A música que eu escolhi, “Cobertor”, que também tem uma versão de Calcinha Preta, é a minha música favorita deles. Não sei se ela, assim como “Amantes”, é uma música que me toca por causa de minha relação com a música brega e músicas sobre um legítimo caso de amor ou coração partido. Ou se é porque eu ouvi numa tarde de domingo no supermercado em Belo Horizonte após ter vivenciado um “amor de verão” (e nem era mais verão) e me dei conta que sabia cantar essa música toda.


Araketu – Cobertor



Em 1991 Carlinhos Brown cria a lendária Timbalada. Timbalada era mais do que uma banda, era um movimento musical. Um movimento centrado na percussão e sobretudo no timbau com elementos de Axé, Samba-Reggae, Samba de Roda e um pouco de ritmos afro-caribenhos (dependendo da época). Já Carlinhos Brown, assim como Luiz Caldas, é um multi-instrumentista que também se enveredou por diversos estilos e gêneros musicais e até teve uma banda de Rock chamada Mar Revolto no fim da década de 1970. Carlinhos Brown se tornou figura notória na música ainda nos anos 1980. Inclusive tendo parcerias com diversos artistas da dita MPB.


Gostaria também de fazer uma menção honrosa ao antigo vocalista da Timbalada, Xexéu. Inclusive ele que divide os vocais com Marisa Monte que bem mais tarde faria um projeto com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Se olharmos bem, todos os maiores sucessos da Timbalada tinham Xexéu no vocal. Infelizmente as últimas notícias que tive sobre ele era que se encontrava em péssimas condições financeiras.


Timbalada e Marisa Monte



Não é a primeira vez que falo sobre o Olodum e posso falar deles por diversos aspectos muito além da música. É um movimento social que abarca a cultura afro-brasileira e afro-baiana, música, teatro, artes visuais, luta pelos direitos civis, luta contra o racismo e outras lutas sociais (e até um certo “Q” de panafricanista, na minha leitura). É um movimento de expressão internacional nascido e criado no Pelourinho em 1979.


Olodum praticamente criou o Samba-Reggae com Neguinho do Samba e Mestre Jackson unido uma variação regional de Samba de Roda chamado Samba Duro com Reggae e Funk (acho que não preciso explicar que me refiro ao Funk original do EUA). Inclusive o Samba-Reggae foi uma base para criação do Axé.


Na lista de artistas que o Olodum já fez parcerias temos: Michael Jackson, Paul Simon, Pet Shop Boys, Caetano Veloso, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Jimmy Cliff, Kimbra, Pitbull, Jennifer Lopez e Claudia Leitte.


A música que escolhi foi o que para mim é o maior hino do carnaval baiano, “Faraó (Divindade do Egito)”. Esse hino foi lançado em 1987 tanto no álbum de estreia do Olodum, “Egito, Madagascar”, quanto um single de Djalma Oliveira com Margareth Menezes que vendeu mais de 100 mil cópias no Brasil, além de lançar Margareth Menezes nacionalmente. Na verdade, ela até ficou receosa de participar disso, já que queria ser cantora de Funk e Blues. A música gira em torno de um resgate a identidade africana e da cultura e mitologia egípcia. Fala sobre o antigo mito do casamento de Osíris com Isis e sua morte por parte de seu irmão Seti, mas foi vingado por seu filho Osíris, além de fazer um apelo sobre o Olodum assim como um resgate da cultura negra africana, sobretudo egípcia.


Olodum – Faraó (Divindade do Egito)



Seguindo a linha, vou falar de uma banda que teve extrema importância para o Samba-Reggae, mas que ficou ofuscada em seus últimos anos. Banda Reflexu’s foi funda em 1986 e foi a primeira banda baiana a vender mais de 1 milhão de discos, ganhando cinco discos de outro e seis de platina. “Reflexu’s da Mãe África” é um álbum que traduz exatamente o que a banda era. Assim como o Olodum, tinha uma preocupação com enaltecer e evidenciar a cultura afro-brasileira baiana e a cultura africana de modo geral. A banda já teve uma outra formação e outro nome antes disso, mas ao se tornar Reflexu’s marcou presença dentro do nicho do Axé assim como Samba-Reggae podendo ser considerada também como uma das criadoras.


“Madagascar Olodum”, assim como “Senegal” e “Faraó (Divindade do Egito)” mescla história e mitologia africana, nesse caso de Madagascar, com evidenciar a situação do negro na Bahia.


Banda Reflexu’s – Madagascar Olodum


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