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Foto do escritorIvan Motosserra Pamponet

Carna – Purim (Parte 3)




Estranhamente desde criança (nunca gostei de pagode baiano, mas obviamente que conheço vários e tenho carinho nostálgico por umas) eu sempre fiquei intrigado e, de certa forma, admirado com essa letra que não faz muito sentido com mensagens aleatórias sendo induzidas na minha mente juvenil. Ele fala sobre se embolar e dançar, que o urubu nasce da cor de algodão, que a ema vai voar e veio do Ceará, que ele vai dançar e ralar o coco. Realmente eu fiquei anos tentando entender até entender que nem tudo precisa fazer muito sentido, mas sim ser sentido. Estamos falando de uma banda dos primórdios do pagode baiano formada em 1992.

Gang do Samba – Embole



Todos nós sabemos que Beto Jamaica e Compadre Washington foi uma banda que mudou o pagode baiano. Na verdade, eles não criaram nada. Eles começaram como Gera Samba com influências de samba de roda e com aquela safadeza típica do carnaval de Salvador em 1992. E em 1995 é lançado o álbum “É o Tchan” que fez tanto sucesso nacional, chegando a ganhar disco de platina duplo em 1996, que eles mudaram o nome da banda para É o Tchan. Sua banda de apoio teve algumas mudanças, mas o padrão era o mesmo. Como dançarinos tínhamos o icônico Jacaré, Carla Perez e Débaro Brasil. Mais tarde houveram substituições e Scheila Carvalho e Sheila Mello entraram para dançar. Claro que tiveram outros músicos e dançarinas depois, mas ninguém de tão relevante assim (Talvez Tony Salles que substituiu Léo Santana no Parangolé. E para quem não sabe eu, Lucas Santana e Rafael Zalcbergas fomos responsáveis por levar a coreografia do sucesso “Rebolation” para machanot antes dessa ser um sucesso fora da Bahia).


É o Tchan – Pau Que Nasce Torto



Eu lembro que já existia uma crítica, a meu ver moralista, ao pagode baiano nos anos 1990 por seu duplo sentido ou por conta de coisas explícitas mesmo. Hoje temos o pagofunk e a coisa ficou muito pior para quem não gosta dessas músicas. Então vou colocar um exemplo de como o pagode baiano já foi muito mais “inocente”.

Companhia do Pagode – Na Boquinha da Garrafa



A pessoa pode até dizer que não gosta, que acha um lixo e que nunca ouviria em casa, mas eu duvido que se essa música tocar no meio do carnaval e (depois de algumas poucas latinhas) alguém não vai cantar e dançar, mesmo não sabendo a coreografia.


Terra Samba – Carrinho de Mão



Essa aqui é para a galera mais “alternativa”, cult, intelectual, estudante da UFBA e gente que gosta de ser chata (brincadeira). Sérgio Sampaio, o maldito da MPB, não se tornou tão conhecido como alguns de seus contemporâneos, mas era um cara de respeito musicalmente. Dependo de sua obra, ele conseguia unir elementos de blues, rock, samba e choro junto com uma forma poética. Tinha um pai maestro e uma mãe professora, então cresceu ligado nas artes. Uma curiosidade sobre ele é que nasceu na mesma cidade que o rei Roberto Carlos em Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo. E essa música é aquela música que sempre tem alguém (as vezes mais de uma pessoa) que puxa essa música em algum momento do carnaval e do nada se tem um coro de pessoas, geralmente bêbados (e muitas vezes alternativos). A música em si não é muito carnavalesca, mesmo sento essa a temática dessa, mas que sempre tem em todo carnaval, tem.


Sérgio Sampaio – Bloco na Rua


O que eu vou dizer aqui pode chocar algumas pessoas, mas eu não gosto da maioria das coisas feitas por Caetano Veloso. Eu entendo a importância musical dele e não tenho nenhum problema individualmente. Temos até amigos em comum. Mas eu simplesmente acho muita coisa chata feita por ele. Na verdade, eu não sou fã de MPB e acho boa parte do que é tido como MPB bem chato. Nem vou entrar na discussão sobre o conceito de MPB, pois já deixei bem claro que sou favorável a interpretação e concepção de Odair José sobre o termo (há diferença do que é popular brasileiro de verdade, que é marginal, com o que é música popular das elites, que é mais comercial). Contudo, eu gosto dessa música (não que seja uma das minhas músicas favoritas, longe disso), mas acho que ela resume muito o que é carnaval.


Caetano Veloso – Chuva, Suor e Cerveja



A música anterior retrata melhor o que é um dia de carnaval, mas eu acho essa bem mais carnavalesca. Mantenho considerações similares entre o que disse de Caetano Veloso e Gal Costa. Aproveitar o ensejo e dizer que por mais que não seja fã de nenhum dos quatro (novamente reconheço a importância musical, social e histórica deles e gosto de algumas coisas pontuais), mas gosto de Doces Bárbaros. Na verdade, musicalmente eles podem até serem chamados de geniais pela visão que eles tiveram. Por todo o movimento artístico que contribuíram para criar. Inclusive os diversos nomes que tiveram oportunidade graças a esses baianos. Talvez Os Mutantes, que é uma banda que gosto muito, não fossem tão conhecidos caso Gil não os tivesse incorporado não só como banda de apoio, mas como parte do movimento tropicalista, diferentes dos argentinos que acompanhavam Caetano Veloso.


Gal Costa – Balancê



Definitivamente eu não gosto de Babado Novo ou de Claudia Leitte. Não tenho memória boa ou ruim da existência deles nos meus carnavais e acho mais do mesmo. Inclusive acho ótimas as brincadeiras que envolvem Claudia Leitte (sempre tem umas piadinhas ou comparações com outros artistas como Michael Jackson ou Ivete Sangalo).


Quando eu era criança, não era chegado em Led Zeppelin, porém fui aprendendo a ouvir as músicas certas da banda. Não sou tão fã quanto certos amigos meus e muita gente que vejo por, aí. Mas posso me considerar, de certa forma, fã da banda. Não está entre minhas favoritas de todas, nem acho tão boa assim quanto meus amigos pintam, mas acho uma banda maravilhosa com músicas fantásticos. Inclusive, mesmo não gostando muito de Robert Plant, eu acho John Paul Jones um dos melhores baixistas do mundo. Claro que acho Robert Plant um bom vocal, só não me agrada tanto. Jimmy Page e John Boham eu nem preciso ficar falando, mas admiro mais John Paul Jones dos quatro.

O caso é o seguinte, eu não gosto de Babado Novo e odiei quando eles fizeram sua versão de “D’yer Mak’er”, mas acabou que virou a única música do Babado Novo ou de Claudia Leitte que não me passa raiva quando escuto fora do carnaval.


Babado Novo – D’yer Mak’er


Outra polêmica que será jogada aqui para vocês: Eu odeio Baiana System! Acho muito genérico numa mistura de várias coisas que já deram certo dentro de uma zona de conforto. Acho as letras muito besta e a sonoridade seria um “pagode gourmet”. Essa minha opinião já gerou muita discussão, mas também já me causou boas risadas. Porém eu os acho um mal necessário, pois realmente, hoje, é fundamental no carnaval. Todas às vezes, incluindo quando me furtaram o celular, eu me diverti na pipoca de Baiana. Mas eu realmente não consigo gostar. Eu acho que a o instrumental coloca uns elementos caribenhos com reverb que fica legal, mas não gosto dos elementos eletrônicos e muito menos das letras que acho, como já disse, muito besta. Mas vamos lá:


Baiana System – Lucro


Olha, essa é outra banda que eu não gosto, mas que também acho importante ser colocada aqui, pois de fato os caras arrastam multidões. Eu chamei Baiana System de “pagode gourmet”, mas na verdade ÀTTØØXXÁ tá muito mais para o pagode, não que seja aquele pagodão todo. Mas quem sou eu para julgar, não é mesmo?

Em 2018 eu recebi um grupo de turistas israelenses na minha casa. Elas iam vir aqui pra Salvador e alguém da comunidade de São Paulo marcou o rabino Uri Lam na postagem referente à essas meninas e ele me marcou. Acabei entrando em contato com uma delas, Gil, e expliquei todo o funcionamento do carnaval e os devidos cuidados como turistas. Várias recomendações que iam de vestimentas (usar sapato e doleiras) até na malicia e funcionamento dos circuitos. Acabou que elas ficaram aqui em casa mesmo e veio mais um amigo durante alguns dias, mas não todos. Deles também eu conheci dezenas de outros israelenses, mas minhas melhores amigas desses todos foram Tal e Gil, nós saímos todos os dias, menos um sábado que eles foram para o cinema e eu fui para o Palco do Rock. Eles conheceram meus amigos e fizeram tudo que eu faria no carnaval, afinal, elas estavam me acompanhando e ouvindo minhas dicas e explicações. Um belo dia nós fomos no Campo Grande e decidi passar na casa de meu melhor amigo e médico particular, Juliano (meu companheiro de Bourbon, Roy Orbison e Johnny Cash... e de Vietnã). Depois de vários drinques tropicais e uma boa conversa, convencemos Juliano, um cara que nunca vi no carnaval e usa bota de caubói todos os dias sair desse jeito no carnaval e ainda pegamos a pipoca do ÀTTØØXXÁ na avenida 7.


ÀTTØØXXÁ – Are Baba


Pra quem não sabe, Retrofoguetes é uma das maiores bandas de Surf Music do Brasil com destaque internacional. Podemos dizer que é uma banda irmã de The Dead Billies, uma das maiores banda de Psychobilly (um Rockabilly com influências horror, punk e às vezes até metal) do Brasil. A banda conta com pessoas queridíssimas pra mim como o baterista Rex, cujo filho estudava comigo e o pai não sabia, mas me emprestava vários filmes de faroeste, Fabinho Rocha que é um verdadeiro amor de pessoa e tocou no Pimenta N’ativa e Júlio Moreno que é um guitarrista argentino brilhante. Já passou pela banda Joe que tocou nos Dead Billies e tocou com Pitty, CH Straatmann, ambos no baixo, e o que é pra mim o maior guitarrista do Brasil (pode até não ser o maior, mas é um dos mais), Morotó Slim, que também tocou no Dead Billies.

Quase todo carnaval os Retrofoguetes fazem sua participação no carnaval de Salvador com o projeto Retrofolia. Nesse show, podemos ver Morotó e CH na banda.


Retrofolia - Dança do Tempo


Todo ano que tem carnaval eu vou pelo menos um dia para o Palco do Rock lá em Piatã. Lá um lugar onde Punks, Skinheads (creio que não precise explicar novamente que existem skins de esquerda, direita e apolíticos), Headbangers e todo tipo de “roqueiro maluco fedendo a cigarro” vão para se divertir e reencontrar os amigos. Geralmente são quatro dias de shows e muitas pessoas acampam. Pra muita gente que odeia o carnaval, como já foi o meu caso, o Palco do Rock é um refujo. Esse ano específico eu fui, acredito que no sábado e foi justamente no dia do Conhaque do Zé, então já cheguei daquele jeito lá. Mas estava feliz, pois estava cercado de amigos, bandas boas e ruins e ainda estava com minha namorada, que não gostou tanto assim do estado que eu estava. Mas me sinto orgulhoso de aparece em alguns vídeos no meio da roda (mosh pit). Essa banda em particular eu vi muitos shows na época que eu frequentava e produzia eventos no antigo Buk Porão ali no Carmo. Carburados Rock Motor. Eles são meio Crossover Thasher Punk numa roupagem bem nacional. Gosta da junção desse tipo de música com motores, velocidade e destruição (eu estou de camisa azul).


Carburados Rock Motor – Motor Fumando



Agora vai rolar um bônus pra vocês: Músicas de Purim (Só não tenho certeza se dão o clima certo de cumprir a Mitzvá).


Essa é uma música muito famosa e muito cantada em Israel nessa época festiva. A música é feita a base de palavras em hebraico que se encaixem foneticamente e diz que o mês de Adar chega, então você deve estar feliz. E isso é baseado no Talmud e estende a alegria e felicidade não apenas ao Purim, mas para todo o mês. É muito comum que as crianças fiquem mais perturbadas e brincalhonas nas escolas e cantem essa música correndo como corrente humana.


Iorek Ben David – Quando Adar Chegar/ יוריק בן דוד - משנכנס אדר


Essa música é baseada no libro de Esther e fala sobre a história de Esther e Mordecai. A música fala sobre o Purim, e fala como Mordecai desfilou pelas ruas vestido como um rei e todos os judeus estavam felizes. Essa música foi composta em 1970 por Nurit Hirsh, um compositor israelense bem famoso por lá e responsável por muitas canções em hebraico, chegando a compor mais de mil músicas e ganhando muitos prêmios. Muitas pessoas não sabem quem compôs, pois foi muito regravada e é bem antiga e tradicional.


Dudaim – E Saiu Mordecai/ ומרדכי יצא – הדודאים


Como você deve saber, o Purim é também conhecido como “carnaval judeu” e ocorre em datas próximas ao carnaval ocidental. Conta como Esther conseguiu salvar os judeus de serem mortos pelo Império Aquemênida (Persa) que mantinha o controle sobre os judeus desde a queda da Babilônia pelos Persas. A Babilônia tinha levado os judeus para o cativeiro onde os judeus estavam exilados. Haman era ministro do imperador Xerxes (Esposo de Esther e o cara careca de 300). Esther era sua serva e muito linda, tanto que o imperador pediu sua mão sem saber que essa era judia. Graças a ela, o plano de Haman de exterminar os judeus foi derrubado e esse morreu assim como seus filhos. E nessa data temos uma das melhores Mitzvot, que envolve, o que nós chamamos na Bahia de “comer água”.


Essa música fala que “eu sou o Purim, feliz e divertido e apenas uma vez por ano eu vou te visitar”. O interessante é que os adultos são mais chegados em músicas pop festivas de modo geral, mas as músicas mais populares de fato são músicas infantis que muitas vezes contam a mesma história ou compartilham de uma melodia similar.


Dorit Reuveni – Eu Sou o Purim/דורית ראובני - אני פורים


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