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Foto do escritorIvan Motosserra Pamponet

Mulheres


Imagem de Dieter_G por Pixabay



Como março é o mês marcado pelo Dia Internacional da Mulher (dia 8), época marcada pela luta -e ponha luta nisso- por igualdade. Tentando honrar essa data importante atrelada a causa tanto feminista quanto trabalhista, irei dar uma visão para o lado artístico-musical. Então prestigiarei minhas cantoras favoritas numa homenagem dividida em duas partes.


Irei começar minha singela homenagem com a Rainha do Rockabilly, Wanda Jackson. Se formos tentar definir o que é Wanda Jackson, podemos dizer que é uma mistura perfeita de Elvis com Jerry Lee Lewis e Johnny Cash. Ela foi uma das primeiras mulheres a cantar e tocar Rockabilly e Rock ‘n’ Roll, sendo um grande sucesso entre a década de 1950 e 1960. Os holofotes foram sumindo com o passar das décadas e Wanda Jackson foi tendo sua imagem um pouco apagada. Em 2011, Jack White a trouxe de volta ao tocar com ela na versão de “Thunder On The Mountain” de Bob Dylan. Mas eu prefiro um bom e velho clássico.


Wanda Jackson – Let’s Have a Party



Confesso que demorei muito tempo para encontrar essa preciosidade. Me senti até ofendido por mim mesmo por não ter conhecido antes essa mulher que foi totalmente revolucionária para música. Ela foi fundamental para Elvis, Little Richard, Johnny Cash (cantora favorita dele), Carl Perkins, Chuck Berry, Isaac Hayes, Aretha Franklin e Jerry Lee Lewis. Sister Rosetta Tharpe, a madrinha do Rock ‘n’ Roll começou sua carreira ainda nos anos 1940s gravando música gospel. Obteve logo um certo destaque (menos do que o merecido) e fez apresentações com grandes nomes da época como Cab Calloway e Benny Goodman (um dos maiores nomes do Jazz Swing das Big Bands e era judeu). Ela foi pioneira na forma como utilizava a guitarra nas músicas sendo uma das primeiras guitarristas a usar distorção pesada. Ela foi vanguarda no blues elétrico e exerceu profunda influência no blues britânico sessentista depois de sua turnê na Europa em 1964 ao lado de Muddy Waters, Otis Spann, Ranson Knowling, Little Willie Smith, Reverend Gary Davis, Cousin Joe, Sonny Terry e Brownie McGhee com Eric Clapton, Jeff Beck e Keith Richards na plateia.


Sister Rosetta Tharpe – Up Above My Head



Eu conheci Patsy Cline ao assistir aleatoriamente um filme canadense chamado “C.R.A.Z.Y. Loucos de amor”. É um filme que lida com a relação entre pai e filho e os conflitos entre ambos e interna sobre a sexualidade do filho. O pai era fã de Patsy Cline e tinha um disco raro dessa com a música “Crazy” de Willie Nelson. Aos poucos eu fui me tornando fã dela, principalmente quando eu comecei a frequentar assiduamente a casa de meu melhor amigo, Juliano “Doctor Crazy” Figueredo. Entre muitas músicas, sempre havia espaço para nossa querida Patsy, que me atrevo a dizer que é a cantora favorita dele. Aquela mistura gostosa de Country com um pouquinho de Rockabilly e muita “sofrência”, então farei uma homenagem dentro da homenagem e colocarei sua atual música favorita dessa joia do Tennessee.


Patsy Cline – I’ve Loved & Lost Again



Billie Holiday tem uma das melhores vozes que já ouvi. Lembro quando tinha uns 14 anos e um amigo mais velho e deu uma lista de músicos de Blues e Jazz e, entre diversos artistas maravilhosos como Charlie Parker, Miles Davis, Charles Mingus, Glenn Miller e outros, tinha essa cantora com uma voz carregada de emoção e sofrimento. Lembro de escutar Billie Holiday em dias de chuva e imaginar Salvador com um toque Neo-Noir estilo Nova Iorque entre 1920 e 1940. Billie Holiday teve uma vida extremamente sofrida e isso, pelo menos para mim, explica a emoção sofrida de sua voz rasgada e profunda. Ela era filha de um casal adolescente cujo pai, um músico, abandonou a família com ela ainda pequena. Sua mãe a deixava com parentes enquanto tinha que trabalhar, mas acabou abandonando por não ter condições de criá-la. Ela foi estuprada ainda criança por um vizinho e passou a morar num orfanato onde passava por abusos físicos e psicológicos diariamente. Ela fugiu e passou a morar anos nas ruas tentando reencontrar sua mãe. Conseguiu um emprego como faxineira num bordel até que foi estuprada mais uma vez pelo seu patrão. Ainda adolescente, teve que se prostituir e foi obrigada a abortar e passar mais de um mês tendo consequências físicas do procedimento sem poder ir ao médico. Em 1930, Eleanora Fagan Gough, já usava o nome de Billie Holiday quando foi tentar a vida como dançarina no Harlem, mas acabou sendo descoberta por sua voz no Blues e Jazz. Mesmo nas músicas mais animadas, há uma melancolia em sua voz carregando uma experiência de um século em poucas décadas.


Billie Holiday - Autunm In New York



Nina Simone sempre foi uma das cantoras mais tocadas na minha casa. Meu pai passou para mim e para meus irmãos. A verdade é que meu irmão se tornou um verdadeiro fã e ouvia quase todos os dias, além de ter colocado como nome de algumas gatas e cadelas que criamos. Mas nada disso ilustra o que gostaria de expressar sobre essa artista única e diversa. Nina Simone veio de uma família pobre e fortemente religiosa, cuja mãe era uma ministra metodista. Ela começou a estudar música muito cedo graças a sua igreja e sempre mostrou destaque. Com esse destaque ela também sentiu o que era o racismo ao ser boicotada por ser quem ela era. Nina também teve que começar a trabalhar bem cedo para ajudar sua família, mas sem deixar de lado sua verdadeira paixão, a música. Ela não era só uma cantora incrível, era uma pianista fantástica que conseguia combinar Jazz, Blues, Soul, Gospel e uma clara influência clássica e erudita. Pode-se dizer que ela começou sua carreira ativista junto com a musical, pois desde criança ela se posicionava em relação a discriminação. No período do agravamento da luta pelos direitos civis nos EUA, Nina tinha uma visão bem radical sobre o confronto racial acreditando que só uma revolução armada poderia garantir direitos ao seu povo. E sua visão não contemplava só a questão racial nos EUA, mas diversos conflitos ao redor do mundo.


Nina Simone - Sinnerman



L7 é uma das bandas mais autênticas de Rock. O som delas é uma mistura de Punk com Grunge e um pouquinho Metal e meio Garage. Imagine uma banda uma banda "suja" feita só de meninas malignas e caóticas. A banda surge em Los Angeles em 1985 e consegue lançar seu primeiro disco em 1988 com a produção de Brett Guretwitz do Bad Religion. L7 se torna uma banda verdadeiramente marcante no cenário alternativo no começo de 1990s fazendo turnê com grandes bandas com Nirvana, Faith no More, Pearl Jam, Joan Jett, Hole, Red Hot Chili Peppers. Suas músicas fizeram parte de trilhas sonoras como "Mamãe é de Morte", "Assassinos Por Natureza", "Jerky Boys" e "Tank Girl". Elas com certeza marcaram a juventude de qualquer jovem roqueiro rebelde.


L7 - Pretend We're Dead


Selda Bağcan pode ser considerada a mistura entre Joan Baez e Bob Dylan da Turquia pela sua forte ligação com o Folk e questões sociais e políticas. Ela nasceu em 1948 e seu interesse pela música se deu em 1957 quando começou a tocar e cantar por hobbie. Cantava e tocava principalmente canções populares em inglês, italiano e espanhol, as quais ouvia no rádio. Contudo, só após entrar na Universidade de Ankara ocorreu o florescimento de seu interesse musical, principalmente pelas músicas tradicionais turcas e o Folk, além do primeiro contato com o Anadolu Rock.


Graças ao clube noturno de seus irmãos chamado Beethoven no centro de Ancara, Selda pôde conhecer grandes nomes como Cem Karaca, Barış Manço e Fikret Kızılok. Sua carreira ocorreu de fato em 1971 com seu primeiro álbum Katip Arzuhalim Yaz Yare Böyle – Mapusanede Mermerden Direk produzido por seu amigo e produtor Erkan Özerman.


Os seis singles lançados por ela naquele ano, nos quais interpretou canções folclóricas tradicionais turcas com uma voz forte e emotiva, a marcaram pelo resto de sua carreira, que acompanhada por um simples violão ou bağlama, a conduziriam até a fama nacional. Em 1972, ela foi selecionada pelo Ministério de Relações Exteriores da Turquia para representar a Turquia no concurso internacional de músicas de Orfeu Dourado. Ela lançou mais doze singles e três discos do LP até 1980 e visitou muitas cidades na Turquia e na Europa Ocidental. Muitas de suas canções carregavam forte crítica social e solidariedade com os pobres e a classe trabalhadora, o que a tornou especialmente popular entre os ativistas de esquerda e simpatizantes durante os polarizados politicamente dos anos 1970. Ela experimentou Rock ‘n’ Roll e sons sintéticos e eletrônicos em seus LPs, embora seu estilo musical permanecesse firmemente enraizado na tradição folk. Após o golpe de Estado turco de 1980, ela foi perseguida pelos governantes militares devido as suas canções políticas e foi presa três vezes entre 1981 e 1984 chegando ao ponto de seu passaporte ser confiscado e mantido pelas autoridades até 1987, o que, entre outras coisas, a impediu de participar do primeiro festival WOMAD Reading em 1986.


Selda Bağcan - Niye Cattin Kaslarini



Joan Baez é uma das maiores artistas da música Folk. Desde 1959 já cantava músicas populares até que ousou experimentar de outros elementos musicais. No final dos anos 1960, Baez se torna parceira musical de Bob Dylan e assim como ele, se torna uma grande ativista pelos direitos civis e contra guerra do Vietnã. Essa música fala sobre o caso de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, dois sindicalistas anarquistas que foram condenados à morte por um assalto com homicídio, porém sem provas conclusivas. A música conta com a contribuição do magnífico Ennio Morricone, um dos maiores compositores de contemporâneos e de trilha sonora do século XX.


Joan Baez - Here's To You (Nicola and Bart)



Outra cantora um tanto injustiçada em ralação a seu destaque foi Betty Davis. Ela foi a rainha do Funk e obteve grande fama nos anos 1970, mas hoje, não sei dizer o porquê, não se fala tanto quanto deveria. Ela trouxe uma sensualidade em suas letras até então nunca explorada por uma mulher. Pelo menos não que eu saiba. Betty Davis era cantora, modelo e atriz, e também foi casada com um dos maiores jazzistas de todos os tempos e de diversos gêneros, Miles Davis. Mas Betty, além de talento, tinha amizade e parcerias com grandes nomes como Jimi Hendrix, Sly Stone, Chambers Brothers, Santana, Larry Graham, Greg Errico, Pointer Sisters, Tower of Power.


Betty Davis - Anti Love Song


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