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Foto do escritorIvan Motosserra Pamponet

Música e Purim


Purim e Música – Imagem criada por I.A.


Estava fazendo um texto sobre o carnaval, porém eu encontrei duas dificuldades que atrapalharam um tanto. A primeira, pouco tempo entre afazeres acadêmicos e dar aula. A segunda, como deve se lembrar –caso tenha lido o texto sobre carnaval do ano passado-, é que da última vez que falei de carnaval aqui, me empolguei tanto que acabei escrevendo material para três textos, limitando bastante as escolhas de músicas para esse ano. Contudo, agora que o carnaval acabou e o ano pode finalmente começar devidamente, posso focar o texto em uma festa com elementos similares, porém completamente judaico.


O Purim, muitas vezes resumido a um “carnaval judaico”, é uma bela festa marcada pela resistência dos judeus a mais uma grande perseguição. Além de mais uma vez sobreviver a intolerância e a uma tentativa de exterminio, também é uma data para se comemorar, orgulhar e curtir de montão. Por volta do século V a.c., o grande inimigo da vez foi o Império Persa (Aquemênida) liderado por Xerxes I (o mesmo vilão dos (Grão Vizir) quadrinhos e filme 300 que retrata, de forma romanciada, a batalha de Termópilas durante as Guerras Médicas contra os Gregos. Interpretado por Rodrigo Santoro, o Xerxes real era fisicamente bem diferente da caracterização do ator) cujo principal ministro era Hamã, o principal vilão desse capítulo da nossa história, responsável pela perseguição aos judeus desse momento. Hamã não só conspirou contra os judeus, mas também contra o seu próprio rei, porém Mordecai, primo-tio de Ester, a favorita do harém de Xerxes I e a heroína da história, conseguem impedir a deportação e massacre dos judeus na Pérsia. Lembrando que os judeus passaram pelo domínio da Babilônia que saqueou Jerusalém, escravizou e deportou os judeus e destruiu o grande templo, mas caiu perante o império Persa de Ciro. Visivelmente, é uma festa bem mais animada e menos séria do que o geral, tendo um caráter muito mais nacional (no sentido social e cultural) do que religioso em si. E contém uma tradição que eu particularmente gosto muito que é de “beber até não saber diferenciar o amigo do inimigo”. Pelo menos eu aprendi assim.


Não irei focar muito na parte histórica nem na parte litúrgica, mas sim em uma bela lista de músicas para animar uma festinha de Purim, podendo ser em casa, na comunidade ou com os amigos. Selecionei músicas animadas judaicas ou israelense em geral, não só focando na temática do Purim em si, mas em animar uma boa festa.


Balkan Beat Box – Hermetico


Balkan Beat Box ​​é uma banda israelense fundado por Tamir Muskat e Ori Kaplan em 2003. O grupo toca música de influência mediterrânea que incorpora música judaica, do sudeste da Europa (principalmente dos Bálcãs), do Oriente Médio, Gypsy Punk, Reggae, Hip Hop e música eletrônica. Como uma unidade musical, eles frequentemente colaboram com uma série de outros músicos tanto no estúdio quanto ao vivo.


Os co-fundadores Ori Kaplan e Tamir Muskat, membro do Firewater, se conheceram no Brooklyn, Nova York, quando adolescentes. Kaplan tinha sido um clarinetista Klezmer, enquanto Muskat era baterista de uma banda de punk rock com batidas de Hip Hop e Dancehall.


O objetivo do Balkan Beat Box era pegar musicais antigas e tradicionais e fundi-las com o Hip Hop para criar uma nova mistura de estilos musicais fora do contexto tradicional da world music. Quando crianças, eles sentiram que a música tradicional estava desatualizada e sentiram que não refletia adequadamente suas experiências da crescente cultura mundial, então esperavam trazer uma nova relevância para essas velhas formas musicais tradicionais. Eles tem Boban Marković, Rachid Taha, Fanfare Ciocarlia, Manu Chao e Charlie Parker entre suas influências musicais. O grupo também foi influenciado pelo Dub jamaicano. Em dezembro de 2006, o aclamado artista de Tel Aviv Tomer Yosef tornou-se o líder do grupo, o que considero que deu uma grande “temperada” em sua música. Além do cara ser um bom cantor, ele tem uma energia muito envolvente e sabe animar o público.


O primeiro álbum autointitulado do Balkan Beat Box, de 2005, e seu álbum seguinte de 2007, Nu Med, receberam aclamação global. Enquanto seu primeiro álbum se concentrava mais nos sons do Mediterrâneo, seu segundo álbum incluía influências árabes e espanholas. A música "Bulgarian Chicks" de seu primeiro álbum se tornou muito popular. A banda continuou a expandir seu som incorporando Dance Music, Eletrônica, Reggae, Cumbia e bandas de metais (sax, trompete, trombone . Blue Eyed Black Boy, de 2012) foi gravado na Romênia com a banda de metais Jovica Ajderevic Orkestar e no Vibromonk East em Tel Aviv. O álbum Give foi influenciado pela Primavera Árabe, pelos movimentos Occupy e pelo espírito de mudança em todo o mundo. A Spin Magazine apelidou a banda de "uma missão global de manutenção da paz na qual você pode dançar”.


Não é o tipo de som que costumo ouvir, mas tem umas músicas bem interessantes e bem trabalhadas. Porém, junto com a qualidade, é impossível não concordar que a banda é extremamente dançante.


Omer Adam feat. Arisa - Tel Aviv


Omer Adam é um cantor israelense cuja música funde elementos da música Mizrahi oriental (judeus do Oriente Médio) e instrumentação Pop ocidental. Omer Adam nasceu na Carolina do Norte, EUA, em uma família israelense residente nos Estados Unidos. Do lado paterno, seu pai Yaniv Adam é descendente de judeus da montanha (Kavkazi), enquanto sua mãe é descendente de judeus Ashkenazi. Seu pai era um oficial das forças especiais nas Forças de Defesa de Israel que serviu como vice-comandante da Unidade Shaldag e Batalhão 202 da Brigada de Pára-quedistas. Seu avô paterno, Shmuel, serviu como comandante sênior da Polícia de Fronteira de Israel. Ele também é parente do general Yekutiel Adam e de seu filho, general Udi Adam. Quando Adam tinha três anos, a família voltou para Israel e se estabeleceu em Moshav Mishmar HaShiv'a. Adão cresceu em Israel. Durante seu serviço nacional obrigatório nas Forças de Defesa de Israel, ele serviu no Corpo de Tecnologia e Manutenção. Adam desfrutou de grande popularidade apesar de ter saído Kokhav Nolad (espécie de programa “Idolos” israelense). Ele percorreu o país dando mais de 150 apresentações em menos de um ano se tornando um dos maiores artistas do país, em termos de popularidade, ainda quando era menor de idade. Se tornou um gigantesco sucesso em muito pouco tempo.


Eliad Cohen (Arisa) é um produtor, ator, modelo e empresário israelense. Ele é o co-fundador da Gayville, um serviço de aluguel de temporada gay-friendly com sede em Tel Aviv. Ele se tornou uma proeminente personalidade gay israelense depois de ser escolhido como modelo de capa do Spartacus International Gay Guide para a edição de 2011-2012, que levou a várias capas de revistas em todo o mundo. Depois de completar o serviço militar, Eliad Cohen começou uma carreira de modelo, depois se ramificou na organização de eventos, principalmente as séries Arisa e PAPA, promoção de eventos do Orgulho Gay de Tel Aviv e várias atividades de apoio ao turismo gay-friendly israelense. Ele também estabeleceu um serviço on-line proeminente por meio de seu próprio site Gayville. Cohen também é designer de moda de roupas de banho e calçados masculinos, apresentando um desfile de seus looks primavera/verão 2023 na Miami Swim Week 2022.


Para quem não sabe, mas Tel Aviv é considerada uma das cidades mais gay do mundo e acredito que isso se deva por ser uma cidade com uma sociedade menos religiosa e mais cosmopolita, agregando valores mais progressistas. Seguindo essa linha de pensamento, a moderna e diversa (diversidade etnica, cultural, sexual e etc), acabou se tornando um porto seguro para LGBTQ+ não só israelenses, mas em nível mundial. Vale lembrar que Israel é a única democracia similar aos modelos ocidentais de respeito a liberdades individuais de todo Oriente Médio.


Particularmente, eu não gosto da extrema maioria das músicas Pop e essa música não é diferente. Não gosto e não escuto, porém é um fato que a música é bem produzida, executada e animada. Se tornou uma febre em Israel e brinca com os homens de Tel Aviv que, segundo a música numa tradução grosseira e resumida, que de dia eles aparentam serem másculos e de noite eles ficam mais “soltos”. Inclusive, quando eu estava chegando em Tel Aviv pelo Taglit, essa foi a música que tocou no ônibus.


Static & Ben-El Tavori - Tudo Bom


Static & Ben-El Tavori era uma dupla Pop israelense composta pelos cantores Liraz Russo (também conhecido como Static) e Ben-El Tavori. Liraz Russo, mais conhecido como Static foi adotado por um casal israelense rico, Moshe e Nitza Russo, aos quatro meses de idade, e foi criado como judeu em Haifa, Israel . Ele não conhece seu país de nascimento, embora tenha mencionado que é possível que ele tenha nascido na América Latina. Ele começou a aprender a tocar piano aos três anos e depois mudou para o violão. Aos 15 anos, ele se apresentou em festivais municipais com uma banda juvenil de Haifa. Ele cumpriu o serviço militar obrigatório nas Forças de Defesa de Israel como oficial da Força Aérea de Israel, mas foi dispensado antes do tempo e não completou o serviço militar completo por motivos de saúde. Após ser dispensado, ele começou a trabalhar com o produtor musical Omri Segal, o que lhe abriu portas na indústria musical. Adotou o nome artístico de "Static", apelido que lhe foi dado por um amigo de infância. Sua descoberta veio em 2015, quando junto com DJ Gal Malka, lançou a música "Ba La Lirkod", que entrou na playlist Galgalatz e se tornou uma das canções israelenses de maior sucesso do ano.


Ben-El Tavori é filho do cantor israelense Shimi Tavori e Aviva (nascida Azulay), sua família tem ascendência Mizrahi iemenita e marroquina. Em 2005, aos 14 anos, cantou publicamente pela primeira vez com seu pai. Em 2007, com 16, ele fez o teste para a sétima temporada de Kokhav Nolad junto com seu irmão Daniel, mas apenas seu irmão foi aceito. Ele fez o serviço militar obrigatório na Força Aérea de Israel. Em março de 2011, ele lançou seu primeiro álbum. Sua cooperação com Russo e Peleg na música "#DubiGal" de Ron Nesher é considerada sua descoberta.


A dupla, assim como muitos israelenses, é apaixonada pelo Brasil e sempre se identificaram com a cultura brasileira. Static chegou a namorar uma brasileira por seis anos. Em junho de 2017, eles lançaram a música com tema brasileiro "Tudo Bom" que contém algumas palavras em português como “caipirinha” e “cachaça” numa sonoridade baseada no Funk brasileiro com um toque de Samba/Pagode e com direito até a berimbau. A letra faz referência a Morro de São Paulo, localidade baiana de visual paradisíaco que atrai muitos turistas, principalmente israelenses. Em Morro de São Paulo, a quantidade de israelense é tanta que as placas e cardápios tem opções em hebraico, assim como seus guias, e abriram até uma sinagoga. Essa música se tornou amplamente popular em Israel e também atraiu atenção significativa do Brasil. A dupla foi convidada a visitar a Embaixada do Brasil e conhecer o Embaixador do Brasil em Israel, recepcionados com pão de queixo e brigadeiro. A música quebrou o recorde de maior número de visualizações de uma música israelense no YouTube em um dia. Em 20 de dezembro de 2017, o número total de visualizações atualmente é de mais de 44 milhões, também o mais alto de qualquer música israelense. Taí uma união bonita que dá certo, Brasil e Israel.


MC Sapinho de Israel e Mr. Catra – Jerusalém


Novamente uma música que eu não gosto, mas julgo ser divertida para uma festividade como o Purim. Sandro Korn, quem eu acredito que seja judeu, é conhecido como MC Sapinho de Israel, funqueiro carioca que mora em Tel Aviv desde 2003. Mr Catra era um dos funqueiros mais famosos do Brasil, conhecido por sua voz grave e profunda e seus 32 filhos. Mr Catra foi adotado por uma família rica que proporcionou viagens à Disney quando ainda criança. Chegou a ser líder estudantil no colégio Dom Pedro II. Inicialmente ele tinha uma banda genérica de Rock quando jovem até alguém o convencer que isso era coisa para brancos e que ele tinha que ir para o Rap ou Funk. Essa influência dos amigos mais sua malandragem juvenil e um certo ímpeto libidinoso o levaram a ser o Mr Catra. Entre suas polêmicas está o fato de viver com quatro esposas e 32 filhos (ele assumia qualquer filho sem exame de DNA), suposta apologia a facção criminosa e ser simpatizante a volta do regime monarquista no Brasil. Aos 32 anos, supostamente teria se convertido ao judaísmo numa viagem para Jerusalém e seguiriam uma linha baseada em Salomão. Mr Catra morreu em 2018, aos 48, de um câncer de estômago que descobriu em 2017. Porém, nos deixou essa pérola musical que tanto animou Machanot e até uma noite no Shuk de Jerusalém.


Postmodern Junkebox feat. Robyn Adele Anderson – Talk Dirty


Postmodern Jukebox é um projeto coletivo (e rotativo) bem bacana que adapta músicas geralmente Pop atual em versões vintage fundado pelo arranjador e pianista Scott Bradlee em 2011. PMJ é conhecido por retrabalhar música popular moderna em diferentes gêneros vintage, especialmente formas do início do século 20, como Swing Jazz. Postmodern Jukebox acumulou mais de 1,8 bilhão de visualizações no YouTube e 5,8 milhões de assinantes. A cada semana, o Postmodern Jukebox lança um novo vídeo no YouTube. Embora originalmente a maioria tenha sido filmada casualmente na sala de estar de Bradlee, os sets se tornaram mais elaborados com o tempo. A banda fez covers de músicas de artistas como Lady Gaga, Kate Perry, Radiohead, Guns ‘n’ Roses, Ke$sha e etc. Desde o início como um pequeno grupo de amigos fazendo música em um porão em Queens, Nova York, o Postmodern Jukebox apresentou 70 artistas diferentes e fez uma turnê por seis continentes.


O cantor, compositor, ator e dançarino da Flórida de origem haitiana Jason Derulo (nascido Desrouleaux) fez grande sucessos na última década com suas músicas Pop com uma raíz no R&B. Um dos seus maiores sucessos foi “Talk Dirty” de 2013 ganhou uma versão baseada nas antigas músicas de Klezmer e, mais uma vez na minha opinião, ficou muito boa, como a grande maioria das versões que eles fazem. Eu sou do tipo de pessoa que dificilmente irei gostar de música Pop, ainda mais atual, porém essas roupagens antigas de estilos musicais completamente diferente me conquistam, pois passa a impressão que a música originalmente era assim e era muito melhor.


Postmodern Jukebox feat. Robyn Adele Anderson – Come Out And Play


Originalmente a música “Come Out And Play” é da banda de Hardcore californiano que foi sucessivamente se tornando Pop Punk The Offspring. Essa foi uma banda que marcou minha infância e adolescência sendo uma das minha favoritas na época, mas que começou a me decepcionar ainda naquela época. Porém Offspring implacou diversos clássicos nos anos 90s e entre eles está essa música que até hoje não sei se é uma referência direta ou não ao filme Warriors de 1979. Acontece que essa música já tem uma guitarra que usa uma “escala arábica” (o que graças a Dick Dale combina muito com Surf Music) e, seguindo por esse viés, combinaria imensamente com um violino e clarinete de Klezmer e foi isso que aconteceu.


Richard Cheese & Lounge Against The Machine – Come Out And Play


Richard Cheese (Esse nome é uma piada nojeta e “picante”/Nascido Mark Jonathan Davis) teve uma ideia brilhante de pegar várias músicas de diferentes estilos de Rock como Guns ‘n’ Roses, Rage Against The Machine, Slipknot, System Of A Down e Michael Jackson e fazer versões cômicas em Swing Jazz/Big Band bem estilo Las Vegas na década de 1950. Ele também fez uma versão de “Come Out And Play” do The Offspring, mas em outra roupagem já puxando para “Fever” (Ela foi muito extremamente regravada por grandes artistas como Peggy Lee, Elvis, Buddy Guy, Suzi Quatro, Madonna, The Doors e muitos outros, mas a original é de 1956 gravada por Little Willie John) até que ele mete um “L’Chaim!” enquanto o xilofône toca “Hava Naguila”.


Me First And The Gimme Gimmes – Hava Naguila


Eu já falei desse supergrupo que faz versões de outras músicas de Pop e Rock em versão Hardcore. Me First and The Gimme Gimmes conta com Fat Mike do NOFX (que é judeu), Spike Slawson do Swingin’ Utters, Joye Cape e Dave Raun do Lagwagon e Chris Shiflett do No Use For A Name e Foo Fighters fazendo essas versões engraçadas e chegando até a gravar um disco ao vivo eo Bar Mitzvá do pequeno Johnny.


Daniel Kahn & The Painted Bird – March Of The Jobless Corps (Arbetskizer Marsh)

Também já falei umas três ou quatro vezes de Daniel Kahn que é um músico, cantor, escritor, compositor e ator judeu de Detroit que montou uma banda de Klezmer moderno em Berlin em 2005. Essa música é originalmente uma canção Russa Yiddish anarquista do começo do século XX que fala sobre os trabalhadores se juntarem contra seus patrões que exploram o trabalhadores enquanto bebem vinho e se divertem (já citei essa música também).


Yaptzik Klezmer – Purim Klezmer


Infelizmente eu não achei muita informação sobre algumas das músicas que achei interessante colocar nessa lista, mas irei mencionar mesmo assim como uma espécie de bônus:


Mark Kovnatskiy Band – Klezmer Medley on Purim


Mark Allaway – Klezmer Party


Barcelona Gipsy Klezmer Orchestra – Shalom Alechem


Talk Yiddish To Me (Nisht-Dirty Parody)



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