(Shemot 10:1-13:16)
Como representar
Como atuar
Como teatralizar
Como não mudar ninguém
Como não impor nada a ninguém
Como mudar cenários
Como mudar de posição
Essa semana estamos lendo a décima quinta parashá da Torá, que está no livro de Shemot (Shemot 10:1-13:16) que se chama Bô (Venha até o Faraó). A parashá fala como o Eterno nos ensina sobre a arte judaica do espetáculo, do show, do teatro…
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Shemot (Êxodo 10:1-2)
“Vaiomer Amonai el Moshe. Bô el P’arô, Ki ani hicabediti et libo, veet lev avadav lemaan shiti ototai ele berkibô. Ulemaan tisaper beoznei benecha uben-benecha et asher hit’alati bemitzraim veet ototai asher shamati bam veidatem ki ani Amonai.”
“E HaShem disse a Moshê: “Venha ao Faraó, porque Eu endureci seu coração e o de seus servos, para que Eu possa colocar esses Meus sinais no meio deles e para que você relate aos seus filhos/filhas e netos/netas como Eu fiz os egípcios de bobos e como realizei sinais miraculosos entre eles. Vocês então saberão que Eu sou D-us”
Abram as cortinas! Quando as cortinas caírem… o show estará começando!! O show está começando! Vejam o grande espetáculo que está para começar… O texto da Torá mostra um show, uma peça com muitos eventos, sinais extraordinários e um evento diferente de muitos onde o Eterno é o diretor da peça e todos nós, incluindo nossos antepassados israelitas, os egípcios e o Faraó são as “marionetes” …
Afinal, quem controla quem? Nós controlamos a nós mesmos e ao nosso destino ou será que o Eterno nos controla? Temos livre arbítrio ou somos nós que escolhemos o nosso destino?
Como o Eterno pode “endurecer” o coração de Faraó? Faraó não tem escolha? Ou será que esse “endurecimento” é uma metáfora de seu julgamento, onde o Faraó teria seu coração pesado pelo Eterno segundo o que prescreve o livro dos Mortos, o jogo de Sennet e os hieróglifos das pirâmides e catacumbas?
Aparentemente, parece que o Eterno a seguir um destino predeterminado(Katub), assim como o “endurecimento” do coração de Faraó. Entretanto, a relação entre livre arbítrio e destino é mais complexa do que podemos observar. O Eterno estabelece uma espécie de jogo e espetáculo ao mesmo tempo com todos nós, inclusive fez isso com o Faraó.
O Eterno não interfere na nossa escolha e nem na nossa decisão, porém assim como as peças de um jogo, assim como os atos de uma peça de teatro, o tabuleiro e o cenário são reajustados a todo instante e assim, o Eterno executa o seu teatro com todos nós. Apesar de eu, você e o Faraó termos liberdade de escolha e destino(katub), as infinitas possibilidades de eventos e escolhas de todos os seres humanos são direcionadas pelas infinitas possibilidades de mudanças de cenários e eventos históricos e assim D-us cria o Mundo e a História.
Com isso, a gente entende que nenhuma pessoa, nem o próprio D-us consegue mudar ninguém e nem alterar as escolhas, atos ou destinos das pessoas devido o princípio do livre arbítrio. Entretanto, eu posso “endurecer” o coração de alguém, assim como D-us endureceu o coração de Faraó. O objetivo aqui não é fazer o próximo sofrer, mas fazer com que a pessoa que tem o coração endurecido se torne cada vez mais essencialmente ela para o bem ou o mal, para que ela possa se apresentar de forma mais verdadeira, para que ela possa passar pelo julgamento da sua própria consciência, sem que para isso eu possa julgá-la.
E para isso é necessário mudar o cenário, mudar a posição que eu ou você nos encontramos. Uma mesma ação possui diferentes resultados se estão em ambientes distintos. No caso do Egito, o Eterno passou a subjugar os deuses egípcios através do teatro dos sinais e por isso a posição de Faraó mudou. O Eterno fez o faraó passar pelo julgamento de Osiris. O faraó teve que se deparar com a própria consciência, com o fracasso, com à impotência e por isso o seu coração endureceu, pois se era essencialmente orgulhoso, necessitou ser ainda mais. O Eterno fez o faraó e os egípcios de “bobos”.
Da mesma forma, em relação àqueles que estão ao nosso redor, precisamos ser flexíveis e temos que aprender a arte de teatralizar, de mudar o show, de apresentar os sinais, de atuar em outra direção sem esperar ou contar com a mudança alheia. Só a sua mudança de posição, só com a mudança do show ou do ato teatral que você poderá colocar alguém sobre o julgamento de sua própria consciência e assim poderá “endurecer” o seu coração.
Não fique parado. Estático. O destino não é fixo e nem está escrito nas estrelas (Katub). Se você muda, não espere mudança de alguém. Não crie expectativas. A sua mudança será o julgamento da consciência alheia, a sua mudança será o “endurecimento” do coração de alguém.
Os resultados dessas mudanças, do reposicionamento dos cenários, dos atos do “teatro” e das peças, das cenas dos filmes são dignos muitas vezes de registro histórico, e muitas vezes representam mudanças muito profundas, como foi a saída dos israelitas do Egito com a conquista da liberdade. Esses atos de mudança, esses atos teatrais podem significar uma herança de uma história que você criou e irá transmitir aos seus filhos/filhas; netos/netas e filhos e seus filhos e filhas de suas filhas assim como o Eterno nos ordenou contar os sinais de geração em geração, que Ele criou para nos libertar. Contar essa história aos nossos descendentes para todo o sempre…
“Peço desculpas a todos vocês de antemão por quaisquer erros que tenham cometido. Fiquem a vontade para fazerem recomendações e correções ao texto”
Saulo Brandão de Aguiar
(Beniamim Ben Avraham)
Amém!
Referências:
Chumash Torá - Rabbi Meir Matzliah Melamed ZT”L (Editora Sefer)
Chumash Torá - Rabbi Aryeh Kaplan (Editora Maayanot)
Comentários do Rabbi Jonathan Sacks ZT”L em português (Site da Sinagoga Edmond Safra)
O Livro dos Mortos
Scalene - O peso da Pena https://youtu.be/UCiaq25qlWE
Greta Van Fleet - When The Curtain Falls https://youtu.be/86_vnQc1oBE
Rabino Nilton Bonder - Chatzot HaShavua - Bo: https://youtu.be/wLp4gnBVi5g
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