O que é o Afeto? O que é a Bondade? O que é Carinho? O que é Consolo e Conforto?
Devarim (Deuteronômio) 3:23–7:11
Em Leilui Nishmat dos meus avôs, da minha avó por parte de pai e de todos os avôs e avôs que estão com o Eterno.
Em homenagem a minha avó por parte de mãe e a todos os avôs e avôs que estão próximos de nós. Vida Longa e Próspera!! 🖖
Imagem de mohamed Hassan por Pixabay
Essa semana estamos lendo a segunda parashá do livro de Devarim (Deuteronômio), chamada Chanan/ VaetChanan (Afeto). A palavra Chanan seria o plural de uma outra palavra em hebraico chamada Chen que poderia ser traduzida como bondade, favor, graça, agradável, favorecido/a, ter afeto.
O Vovô (Saba) Moisés e nós, os seus netos, netas, bisnetos e bisnetas, depois de andarmos muito, muito mesmo, estávamos sentados diante da porta do Lugar especial que sempre esteve nos nossos sonhos, era a “Disneylândia da vida”, o Lugar Sagrado, separado para nós, a Terra Prometida!
Esse Lugar estava nos sonhos de nossos pais, porém eles acharam depois do que eles viram lá que aquele Lugar não era mais para eles. Por isso, fizeram do deserto a sua moradia e travessia. O vovô Moisés, nosso amado professor, o mais antigo, fofo, carinhoso e bem “velhinho” sempre dizia para gente que o Lugar era nosso, mas teríamos que pagar o preço, pagar os ingressos para todos os “brinquedos”.
Antes de entrar no Lugar, como todo bom vovô, ele senta conosco a porta do parque de diversões para contar uma longa história, como um vovô que dá doces para as crianças na sinagoga no Shabat, como se fosse a última vez que estivesse fazendo isso e passa explicar como poderíamos brincar da forma mais plena possível no parque que estávamos prestes a entrar. Alguns de nós, não possuem paciência para ouvir aquela história porque parece que o vovô vai repetir novamente tudo aquilo que a gente já ouviu e sabe na ponta da língua… Novamente, vô… Ainda assim, por respeito, sentamo-nos para ouvirmos a história. Outros de nós, no entanto, passam a escutar com a maior atenção do mundo, porque apesar de ser algo que a gente já sabe de cor, o tom é totalmente diferente e temos a impressão de que aquela pode ser a última vez que o vovô Moisés vai contar a nossa história.
No momento da história, do que aconteceu com ele e com os nossos pais e conosco, o vovô Moisés passa a contar com muita emoção, as fantásticas aventuras vividas por ele, pelo vovô Arão, pela Vovó Miriam e por nossos pais desde uma terra longínqua que não conhecíamos, o Egito, uma terra de mistérios que só conhecíamos de falar. Lá, nossos antepassados sofreram bastante, por que não podiam brincar livremente e por isso, saíram e fugiram para um lugar onde eles poderiam brincar em paz, e ter a liberdade de ser o que gostariam de ser.
Além das histórias, o vovô Moisés nos conta novamente uma série de ditados, princípios, provérbios, pensamentos e passa para nós, novamente, nas suas próprias palavras, o manual de todos os jogos, o manual de como brincar e jogar o jogo da vida. Igual a um mestre Yoda, ele era a própria Yeda (conhecimento) em pessoa:
“Passe adiante o que você aprendeu”
No manual que ele passou, tinha as instruções de como poderíamos aproveitar o parque de diversões que estava a nossa frente. Esse manual foi entregue a nós através do vovô Moisés pelo Pai e Mãe de todos nós, o Aba e a Ima, o Aba/Ima, nosso ancestral Maior, “aquele/a” que nos gerou: o Eterno/a Existência.
O Aba/Ima, o Pai e a Mãe de todos nós estavam desde o início sendo o condutor, o piloto da Nuvem que nos tirou do Egito e nos fez rodar pelo deserto até aquele momento. No momento em que Aba/Ima tentou passar o Manual da Vida para a gente, a Torá, nós não compreendemos sua linguagem de imediato e pedimos ao vovô Moisés que pudesse conversar com Aba/Ima para saber como era esse Manual. Inicialmente até nossos pais falaram que seguiriam às instituições do Manual mesmo que não fossem claras às instruções e com o tempo, eles passariam a compreender. Nós, os netos sabemos mais do que nossos pais sobre esse Manual, porque a sabedoria e o entendimento aumentam com o tempo, porém ainda precisamos muito do vovô Moisés para entender o que está escrito e o que nos falaram.
O Aba/Ima é o nosso ancestral Maior, um parente que não fala muito na nossa língua, mas que tem uma linguagem especial. Ele/Ela está tão próximo, quase dentro nosso coração, mas de forma contraditória, tão distante de nós que muitas vezes não conseguíamos por nós mesmos entrar em contato. Diziam que dava para falar com o Aba/Ima se alguém fosse na Tenda do centro, na Tenda Sagrada, aquela que estava na frente do nosso acampamento. Entretanto nossos pais e nós pedimos ao vovô Moisés para entrar em contato com Aba/Ima para nós, porque ele entendia como fazer contato com mais facilidade ou as vezes, os filhos do Vovô Arão, conseguiam falar uma vez no ano. Às vezes, Aba/Ima falava com alguém que tivesse sensibilidade e compreensão suprarracional, mas a linguagem de Aba/Ima sempre foi de afeto.
O vovô Moisés disse para gente que era mais fácil entender o Aba/Ima se a gente tivesse Chen, ou seja se a gente tivesse a sensibilidade do afeto. A gente mesmo não entendeu muito quando Aba/Ima respondeu de forma negativa, pedido do vovô Moisés para entrar junto conosco no parque de diversões da Terra Prometida:
“E eu, pedi ao Eterno com afeto, no tempo correto…”
“Por favor, pare Moisés! Não continue com esse assunto, não queria falar mais esse assunto com você…”
Devarim (Deuteronômio)3:23-26
Inicialmente achamos que o Aba/Ima estava muito zangado com o vovô Moisés, depois entendemos que o Aba/Ima queria proteger o vovô Moisés porque ele já estava muito cansado de cuidar de nós e agora era a nossa hora de cuidar de nós mesmos. Entendemos que o vovô Moisés estava muito preocupado conosco, mas o Aba/Ima consolou o vovô Moisés e confortamos ele, dizemos que já temos no coração, as histórias e ensinamentos que ele nos passou do Manual da Vida e que esses seriam passados de geração em geração a partir daquele momento:
Nachamu, Nachamu Ami… Conforte, conforte; console, console meu povo… Yeshayahu 40:1 e 2.
Tranquilizamos ele e confortamos, dizendo para o vovô Moisés agora era nossa vez e que o vovô Josué estava pronto para nos conduzir, que outros vovô e vovós surgiriam e que ele poderia descansar junto ao Aba/Ima, assim como foram antes a Vovó Miriam, o Vovô Arão e todos os outros vovôs e vovós, mas que sempre todos eles estariam no nosso coração e poderíamos nos comunicar através do afeto, do Chen.
O vovô Moisés nos ensinou a escutar (Shemá) o Aba/Ima com a voz do coração e seguir os seus conselhos por amor. Nos ensinou a amar o Aba/Ima, com todo o nosso coração, com toda nossa alma e com todas as nossas forças. O vovô Moisés nos fez entender que todo o ensinamento e as histórias que estão no nosso coração, que são o Manual da Vida que ele nos passou não são uma obrigação ou um peso, mas é uma forma de conexão com os nossos ancestrais, com o Aba/Ima, um afeto que conecta e atravessa gerações e que nos faz lembrar de quem amamos, que nos faz viver, brincar, jogar e aproveitar o jogo da Vida da melhor forma possível.
O Avô (Saba), a Avó (Savta), O Pai (Aba) e A Mãe( Ima) estão sempre nos nossos corações, junto com suas histórias e ensinamentos… princípios do Manual da Vida, da Torá. Nos nossos corações e dos nossos filhos, netos, bisnetos e de todas as gerações futuras…
“Peço desculpas a todos vocês de antemão por quaisquer erros que eu tenha cometido. Fiquem à vontade para fazerem recomendações e correções ao texto”
Saulo Brandão de Aguiar(Beniamim Ben Avraham)
Amém!
Referências:
Chumash Torá - Rabbi Meir Matzliah Melamed ZT”L (Editora Sefer)
Chumash Torá - Rabbi Aryeh Kaplan ZT”L (Editora Maayanot)
Comentários do Rabbi Jonathan Sacks ZT”L em português (Site da Sinagoga Edmond Safra)
Star Trek - Leonard Nimoy (Spock)
Star Wars - Mestre Yoda - o Império contra-ataca (1980)
Rabino Nilton Bonder - Chatzot HaShavua - VaetChanan : https://youtu.be/x-r_I2xkCSU
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