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Foto do escritorLuciano Ariel Gomes

Parashat Emor

A riqueza de temas e detalhes na porção que lemos nesta semana faz com que vários assuntos, aparentemente desconectados, permeiem nossos pensamentos à medida que nos aproximamos do Shabat.



Esses temas variam desde as orientações dadas aos Cohanim, os sacerdotes descendentes de Aharon sobre a manutenção da integridade da sua linhagem, até a repetição dos Chaguim (as Festas às quais um caráter claro de santidade é dado). Depois disso a Torá nos relata que dois homens, um israelita e um filho de uma israelita com um homem egípcio, entram em contenda física e o filho do egípcio chega ao ponto de falar de forma desrespeitosa (D-us nos livre) contra HaShem, pronunciando o Nome Sagrado.


Trata-se de uma porção que nos remete mais uma vez ao conceito do Sagrado. A pergunta que precisamos fazer é, o que é ser sagrado? Por que é tão sério ofender o Sagrado?


O Rabino Joseph Dweck (1), rabino sênior da comunidade judaica Luso-Espanhola de Londres (S&Phardi) traz um conceito que lança luz sobre o assunto. Ao falar sobre a máxima registrada na parashá da semana passada, emitida por HaShem, "Sede santos porque EU sou Santo" (2), e em outras ocasiões, ele nos lembra que o valor judaico de Kedushá (Santidade) não se assemelha ao que outras estruturas religiosas compreendem como tal. Santidade não está relacionada ao miraculoso, ao sobrenatural, ao inatingível. Se assim o fosse, como o Eterno nos daria essa ordem? Como receberíamos um comando que não teríamos condições de cumprir? Além disso, como podemos ser "santos" como HaShem é santo? Como poderíamos nos assemelhar a Ele nesse quesito?


Segundo o Rav Dweck o sentido da palavra Kadosh tem relação com integridade. Ou seja, o Eterno é íntegro. Ele é quem Ele é. Podemos confiar n'Ele porque Ele não age de uma forma em um momento e de outra em outro. Apesar de ser Soberano e Todo-poderoso, Ele se comporta, por assim dizer, de forma consistente, nunca contraditória.


É algo realmente fantástico! Agora podemos entender o que ser santo, kadosh, significa. Ao escolhermos um comportamento ético e agirmos por ele, mostramos que não ficamos apenas no universo das palavras, mas das ações. Ser íntegro é, portanto, agir de forma a harmonizar o que defendemos como correto e a forma que nos comportamos. Se declaramos que somos Ivriim (3), hebreus, filhos de Abraham, não podemos agir como quem vai com a leva. Sim, ser um Ivri, é estar na contramão, é não aceitar a injustiça, a violência, os diversos crimes que são cometidos diariamente. É estar na contramão do mal. Para isso, a Torá exige que nós exijamos (desculpem a redundância) de nós mesmos o comportamento que queremos ver no outro. No nosso nível, isso é ser kadosh.


Obviamente, para nós, ser kadosh é uma luta diária. Estamos na corrida em direção a uma vida mais significativa, melhor. Um mundo melhor. Portanto, esta parashá, Emor (o imperativo "Fala"), traz a continuidade da anterior, falando daqueles que precisavam ser o exemplo para os demais, os Cohanim. Daí ela nos ensina algo para o qual nem sempre atentamos. A luz perpétua, a Ner Tamid, era acesa pelos Cohanim, mas, o óleo que a mantinha acesa vinha do povo. O Cohen representava o povo nessa Mitzvá que era cumprida conjuntamente. Nossas sinagogas têm uma Ner Tamid para representar aquela do Mishkan e do Bet HaMikdash. Por isso, essa luz está potencialmente em todos nós e devemos sempre trazê-la para o seio de nossa comunidade. Um que falta, é demais. Daí o ditado, "nove Cohanim (4) não formam um Minyan".


Talvez possamos compreender um pouco a seriedade de ofender Aquele que é verdadeiramente Kadosh. Seu Sagrado Nome possibilita nosso contato com Ele. Não respeitá-lo é rejeitar essa possibilidade. A Torá nos mostra assim, quem é o nosso Criador e o que Ele espera que nós esperemos (perdão mais uma vez pela redundância) de nós mesmos. Ele é Kadosh e nos convida a sermos também…a sermos íntegros. Nas palavras do Rabino Dweck, ser kadosh, é sermos quem somos, assim como HaKadosh Baruch Hu (O Santo Bendito seja Ele) é quem Ele é!


Shabat Shalom



2- Vayikrá 11:45b (Levítico)

3- Bereshit 14:13 (Gênesis)

4- Vayikrá 24:2 (Levítico)


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