Montagem criada por Roberto Camara Jr. para este comentário
A Parashá Shelach nos conta o momento em que o Eterno dá permissão para que Moshê envie 12 Meraglim, um para cada tribo de Israel, para fazer um reconhecimento da terra de Canaã, Israel antes de ser Israel. Tudo dá errado quando apenas dois dos Meraglim - Caleb, filho de Iefuné, da tribo de Judá, e Josué, filho de Nun, da tribo de Efraim - trazem boas e verdadeiras notícias sobre a terra. Os outros 10 homens difamaram a terra, amedrontando o povo, fragilizando a sua fé em HaShem. O Eterno, então, castiga os dez com a morte imediata, e a geração que não teve fé Nele com a impossibilidade de pisar, ou até mesmo ver, a Terra Prometida, condenados a 40 anos no deserto. Apenas as gerações seguintes se agraciaram com a Terra de Israel, tendo a estas dedicadas alguns mandamentos em torno do Talit e de alguns rituais para o Templo.
Quando li esta Parashá fiquei, de início, muito irritada. Sim, aqueles 10 homens erraram, mas a morte não seria uma punição um tanto drástica? Os 40 anos seguintes já não seriam suficientes? Mas quando li os comentários entendi o que Shelach realmente traz. Aqui vemos um povo inteligente, mas que não se permite ter fé. Um povo que reconhece que não pode se apoiar para sempre na possibilidade do milagre - como aponta o Rabi Nachmânides -, ao enviar os Meraglim de forma estratégica para reconhecer a Terra na qual estavam prestes a adentrar, mas que não teve fé para notar a presença do Eterno que os acompanhava e permitiria a vitória sobre os filhos de Anakim. Então qual seria o resultado a longo prazo das palavras maldosas daqueles 10 Meraglim?
O povo chorou naquela noite por uma ilusória impossibilidade de seguir a Israel que não havia nem mesmo sido devidamente discutida entre aqueles que trouxeram boas ou más notícias. Como seria, então, o caminho que o nosso povo seguiria se o Eterno não tivesse tomado medidas drásticas, haveria povo? Sabemos como era o povo naquela época. A palavra, instrumento usado para o erro nesse caso, permanece e permeia muito mais do que um ato, e segundo o Rabi Maimônides, o pecado dos Meraglim está na palavra Éfes (porém). Usaram da palavra para difamar a terra de Canaã e as palavras do Eterno. Se não fosse pela morte daqueles que proferiram essas palavras de traição, talvez o nosso povo não existisse mais.
Pensando nisso, talvez uma das lições que essa Parashá traz é o equilíbrio. Não devemos nos apoiar unicamente na esperança de milagres, mas devemos seguir com fé de que o Eterno está nos orientando por um caminho certo e bom. Devemos nos lembrar dos 613 mandamentos da Torá ao reconhecer um lugar ou experiência nova para nós. Talvez não tenha sido exatamente a palavra, porém (Éfes) o maior erro daqueles 10 Meraglim, mas sim, não abrir espaço para conversa e questionamento, afinal de contas, não é isso boa parte do que é ser judeu?
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