O gesto usado pelos Romanos nas arenas de gladiadores com polegar para cima ou para baixo com o punho fechado é intrigante. Não é uma unanimidade entre os historiadores para qual posição do dedo, se para cima ou para baixo, o lutador deveria ser poupado ou morto. De qualquer maneira, o gesto manifestava as opiniões dos espectadores que lá estavam para se divertir e decidir se pessoas mereciam ou não viver, a depender dos seus desempenhos nas lutas.
Os Romanos sabiam bem que proporcionar pão e circo ao povo, dando às pessoas a sensação de que poderiam tomar suas próprias decisões, inclusive sobre a vida de outros, tornava mais fácil governa-lo.
Decorridos quase 2000 anos do fim do império Romano e até o hoje, o gesto caiu na popularidade para sinalizar aprovação ou desaprovação em geral, para ideias, pessoas, acontecimentos e por aí vai. Ficamos condicionados a reagir com alegria e felicidade ao vermos o “positivo” e com tristeza e preocupação ao vermos um “negativo”.
Abro aqui parênteses para depois retornar ao tema principal.
Após o surgimento do rádio e da televisão, a velocidade da divulgação e abrangência das notícias aumentaram. Mesmo assim as pessoas ainda emitiam naturalmente suas opiniões através das famosas colunas de “cartas dos leitores” aos redatores dos jornais e revistas. Eram necessários mais esforço, tempo e custo para influenciar as pessoas, principalmente a nível de massa.
Bem sabemos que a influência e consequências das notícias ao público, principalmente aquelas causadoras de comoção geral são imediatamente vistas nas ruas, nos lares, no trabalho, nas conversas de bar, nos clubes, nas escolas, enfim em todos os pequenos segmentos da sociedade.
Com o surgimento da internet, a velocidade do processo aumentou ainda mais. Além dos tradicionais veículos de “informação”, existem hoje centenas de milhares de canais emitindo seus boletins, opiniões e previsões e todos tem uma coisa em comum: são sustentados por uma nova moeda, o famoso “Like”.
Pois então o pollice verso, ou verso pollice voltou, mas agora em vez de determinar o destino de uma pessoa, muitas vezes determina o destino de uma nação. O mundo se tornou a arena de gladiadores e o público julga os acontecimentos sentados confortavelmente a frente de suas telas, no conforto de seus lares.
Sem ter a menor noção do que representa “dar o like” a um ou outro “influencer”, as pessoas tomam como verdade muitas vezes os absurdos veiculados, na fantasiosa certeza de que o problema é dos outros e está muito distante para lhes afetarem. Mas achando-se no dever de fazer parte da história e como que num lance de cara ou coroa escolhem um lado para satisfazerem-se, ou sentirem-se politicamente ativas.
E movidos por interesses financeiros, isentando-se de qualquer responsabilidade, milhares destes canais influenciam milhões a terem compaixão pelo mal. São mestres em divulgar cenas muitas vezes maquiadas adicionando as já consagradas narrativas, que forjam as mentes de seus seguidores.
Infelizmente todos estamos na arena. O público que hoje desfruta o show poderá amanhã estar lutando pela vida como gladiador. Basta dar o like errado.
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