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Foto do escritorDr. Rogério Palmeira

Povo do Livro: Os judeus que construíram o Brasil



Anita Novinsky (1922-2021), foi provavelmente a maior historiadora sobre a questão dos Cristãos-Novos, tendo defendido este importante grupo em sua tese de doutorado na Bahia.


Durante a Idade Média, os judeus viviam em Portugal numa certa tranquilidade. Esta tranquilidade foi de tal monta que no transcurso do século XV, a comunidade judaica desenvolveu-se de tal modo que assumiu um papel de destaque na sociedade portuguesa, os judeus eram trabalhadores incansáveis e formavam um dos mais ativos grupos da sociedade portuguesa. Estas situações eram entremeadas por períodos de antissemitismo, como ocorreu no século XIII. Entretanto nenhum acontecimento abalou tanto esta situação quanto em finais do século XV, os Reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, unificaram a Espanha e impuseram profundas leis antissemitas. Os monarcas alimentaram sentimento antissemita e também sentimento anti- muçulmanos e determinados a unificar religiosamente a Espanha em torno da Fé Católica, por édito real de 31 de março de 1492, decidiram expulsar os judeus que não quisessem converter-se, podendo levar os seus bens com exceção de ouro, prata e moedas. Como obviamente não podiam levar as propriedades (os títulos de posse), estas foram perdidas, o que era um bom negócio para o Estado.


Assim, várias famílias saíram de Espanha procurando abrigo em Portugal. D. João II permitiu a sua entrada, com a concordância que poderiam estar no reino por oito meses e eram obrigados a pagar uma taxa de entrada, caso contrário, ficariam cativos. Inicia-se, assim, um duro período da "servidão" judaica. D. Manuel, que sucedeu D. João II, libertou os judeus escravizados. Porém, por decreto real de dezembro de 1496, o rei ordenou que os judeus que não quisessem batizar-se teriam de abandonar Portugal, ameaçando a sua vida e confiscando os seus bens, invocando razões religiosas, talvez por imposição dos reis de Castela, que pretendiam que D. Manuel se casasse com a sua filha D. Maria.


Como à economia do país não interessava a expulsão dos judeus, o rei português simulou expulsá-los, adotando medidas cruéis para os reter, como a limitação do número de portos para o seu embarque ou a sua conversão, usando a força. Desta forma, muitos foram os judeus que ficaram em Portugal durante séculos, transformando-se em "cristãos-novos". Aqui começa a história desta interessante obra de Anita Novinsky, Daniela Levy, Eneide Ribeiro e Lina Gorenstein.


Esta história marcada por discriminação, racismo e muitas mortes, mostra porque muitos cristãos-novos buscavam abrigo no recém-descoberto Brasil. Esta obra é mais um resultado de pesquisas realizadas em todo o mundo e nos arquivos do chamado Santo Ofício da Inquisição e demonstra como os judeus foram perseguidos nos séculos XVI, XVII e XVIII no Brasil. A Inquisição contra os judeus foi autorizada pelo Papa e começou em 1478 na Espanha e em 1536 em Portugal. Mas só no final do século XVI, em 1591, os portugueses mandaram quadros para o Brasil a fim de vigiar e perseguir os judeus. Distante da Europa, o país foi o destino de muitos convertidos, os cristãos-novos, cuja grande maioria praticava o judaísmo em segredo foram alvos desta perseguição. O Livro mostra como esta prática judaizante marcou muitos dos primeiros colonos do Brasil, provando como a marca do povo judeu ajudou a construir o país.


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