Uma das coisas mais mal compreendidas em nossos textos sagrados, especialmente por aqueles que os lêem a partir de traduções não-judaicas, é o conceito de puro (tahor) e impuro (tamê) na Torá e na nossa tradição em geral. E é verdade que alguns dos nossos, principalmente os mais ligados ao sentido literal do texto (p’shat), mantêm a ideia de quando a Torá diz que alguém está impuro a pessoa está espiritualmente suja ou imunda, como costumamos ouvir.
Uma luz nos é lançada quando ouvimos a experiência de Aharon Ha-Cohen, Aarão o Sacerdote, quando ele se recusa a dar prosseguimento às suas funções sacerdotais no dia em que recebe a triste notícia de que seus filhos mais velhos Nadav e Avihu haviam morrido ao oferecer um fogo estranho (esh zará) no Santuário (Mishcan). Sua recusa desagradou Moshé Rabênu (Moisés, nosso mestre), afinal, era uma honra e obrigação para os Cohanim fazê-lo. O texto relata resposta de Aarão da seguinte forma:
E Aarão falou a Moisés: Eis que hoje ofereceram seu sacrifício de pecado e a sua oferta de elevação diante do Eterno; e me aconteceram tais coisas; se eu tivesse comido do sacrifício de pecado do dia, agradaria aos olhos do Eterno? E Moisés escutou e foi-lhe agradável aos seus olhos. (Vaicrá 10:19-20)
Aarão sabia o que significa estar “puro” ou “impuro”. Parece que para ele puro, tahor, significava “estar bem emocionalmente”, enquanto que impuro, tamê, era o contrário disso. Mesmo ele e seus outros dois filhos estando tecnicamente habilitados para servir, ele se sentia “impuro”, ou seja, emocionante incapacitado a comer das ofertas.
Aprendemos que a morte, assim como a perda de energia vital, no caso de Aarão a morte dos próprios filhos, trazem essa impureza, e tudo o que está relacionado a elas. Podemos concluir que todo o processo de purificação na Torá se refere a restabelecer o bom estado emocional das pessoas. Daí a mulher que está em seu período menstrual, o homem que teve emissão noturna, o sangue derramado, as doenças contagiosas associadas ao falar mal de alguém, e assim por diante, representam algum tipo de perda que gera dor ou desequilíbrio emocional. Por isso, precisamos de apoio comunitário nos casos mais graves, nada como o companheirismo de nossa comunidade para nos reerguer.
Nesse contexto, como não direcionar nossos pensamentos às famílias dos reféns mantidos, há quase um ano, pelos terroristas do Hamas? O que dizer sobre os reféns que já perdemos nesse período? Como não estarmos emocionalmente instáveis, mesmo a distância? Como serão os primeiros Rosh Hashaná e Iom Quipur sem seus parentes caídos, sejam eles civis ou militares numa guerra que não foi Israel quem começou?
Além disso, nós também sofremos com o antissemitismo no nível pessoal alguns em maior grau do que outros, mas de forma incontestável todos o sofremos no nível coletivo/comunitário, que se manifestou a partir do 7 de outubro de 2024. Não há dúvida de que isso abala nosso estado emocional e é aqui que precisamos nos cuidar, especialmente nessa época do ano.
Com a ajuda de D’us - B’Ezrat HaShem - estaremos juntos mais uma vez em Rosh Hashaná e Iom Quipur e poderemos falar um pouco mais sobre esse assunto. Enquanto isso, nos preparemos através da reflexão de nossas atitudes para que a alegria de ajustarmos nossas vidas aos sentimentos sublimes e à Teshuvá, ou seja o retorno ao nosso estado emocional mais equilibrado seja possível. Precisamos estar prontos para defender Israel nesta guerra de opiniões em que, quer queiramos quer não, estamos envolvidos, e ao mesmo tempo, sermos capazes de, com nossas orações (Tefilot) e não nos calando quando podemos falar, ajudar a liderança israelense a tomar as decisões que ao mesmo tempo afastem as ameaças contra seus cidadãos e promovam a possibilidade de resgate dos reféns que estão nas mãos dos terroristas.
Que nossa atitude coletiva em prol de Eretz Israel e de Medinat Israel nos traga a pureza, ou seja, o equilíbrio emocional necessário, e nos permita obter o aval divino para um novo ano doce e com muita saúde e Shalom para todo o povo de Israel e para o mundo.
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